CONHECIMENTO
Um sol de pedra viajou ao nosso lado
queimando o ar e os espinhos do deserto.
À tarde deteve-se na margem do mar
como uma lâmpada amarela num grande bosque de recordações.
Não tínhamos tempo para tais coisas – no entanto
dávamos de vez em quando uma vista de olhos – e sobre as nossas mantas
conjuntamente com as manchas gordurosas, a cor, e caroços de azeitona,
repousavam algumas folhas de salgueiro, e agulhas de pinheiro.
Tinham também estas coisas – não muito importantes – o seu peso:
a sombra de uma forquilha no muro, até ao ocaso,
a marcha do cavalo à meia-noite,
uma cor rosa que morre na água
deixando atrás de si o silêncio mais solitário ainda,
as folhas da lua caídas entre a erva, e os patos selvagens.
Não temos tempo – não temos,
enquanto as portas se convertem em mãos cruzadas,
quando os caminhos são como aquele que diz “não sei nada”.
No entanto, sabíamos que para além da grande encruzilhada
há uma cidade com milhares de luzes coloridas.
Lá as pessoas saúdam-se com um único movimento da sua face –
reconhecemo-las pela posição das suas mãos,
pelo modo como cortam o pão,
pela sua sombra sobre a mesa à ceia,
pelo momento em que todas as vozes adormecem nos seus olhos
e uma só estrela cruza a sua almofada.
Reconhecemo-las pelo sulco de luta nas suas sobrancelhas
e, sobretudo – nas noites em que o céu se amplia sobre eles –,
reconhecemo-los por aquele tranquilo e oculto movimento
com que atiram o seu coração como um jornal clandestino
por debaixo de uma porta fechada ao mundo.
Versões minhas - © Amadeu Baptista
Haris Alexiou, Oi filoi mou xaramata:
Obrigado por me apresentar esse poeta, li em voz alto seus veros e deveras encantador a musicalidade e sequência de imagens
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