sábado, 16 de julho de 2011

Vida adulta / 2

MIL NOVECENTOS E SETENTA E QUATRO



Cai o silêncio sobre o alinhamento

hostil das casernas.



A guerra está no fim,

já só alguns de nós irão morrer.



No torpor absurdo da paz da parada,

há uma bala tracejante que passa,

um trovão.



Matou-se o mancebo da 2ª. companhia

que recusava a farda.



O crânio estilhaçado,

impossível de ver,

está ali, bem à nossa frente.



Noite, mais noite, é todo o dia assim.



O arame farpado que nos limita

a escolha

chora pequenas lágrimas perfiladas no fio

da nossa inocência ofendida.


in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)



Foto: © de Amadeu Baptista


Simon & Garfunkel, The Sound of Silence

1 comentário:

  1. AS MÃES SOFRIAM, AS NAMORADAS E MULHERES TAMBÉM, MAS OS MANCEBOS, ESSES JOVENS AMPUTADOS DE VIDA DEVEM TER SOFRIDO HORRORES E SALAZAR DIZIA: "É ASSIM PORQUE NÃO PODE SER DE OUTRA FORMA"

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