quarta-feira, 20 de julho de 2011

Vida adulta / 5

MIL NOVECENTOS E SETENTA E SETE



Setembro, nuvens baixas,

e vento a anunciar a borrasca.



Do outro lado da rua

o movimento absurdo das pessoas

complementa uma poética inigualável

que se estende à polémica subtil

entre os que têm

e não têm guarda-chuva.



Entretanto, um cão negro dobra a esquina.



E toda a essência das coisas,

o seu mistério,

se entretece

na tarde,



com gente a baixar as persianas

ou a correr o estore,

enquanto o cão

alça a perna



e saúda o chão molhado.


(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)





Foto: © de Amadeu Baptista

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