MIL NOVECENTOS E SETENTA
A dois de Dezembro de 1970
comecei a trabalhar como paquete.
Naquela altura, paquete
significava para mim
um navio enorme,
e eu, de navios, só sabia
como a hialina manhã os pode recortar
nas docas, a montante,
e como numa anfíbia vergastada gostava
de os sentir à mão.
Mas não.
Naquele dicionário
a palavra paquete e os seus efeitos
careciam de objectivação,
era só andar de um lado para o outro
a entregar papéis,
e pouco mais.
Por isso, só às vezes
estava em paz comigo,
a presumir
que talvez houvesse uma relação subtil
entre o que eu fazia
e o mar alto.
(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)
Foto: © de Amadeu Baptista
Quanta história para contar, enquanto isso vou lendo e aprendendo. Um abraço, Yayá.
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