MIL NOVECENTOS E SESSENTA E CINCO
No ano de 1965
estou a ler Dostoievski
e os grandes mestres russos
e começo a perceber
que não há uma só Sibéria
ou uma única guerra colonial que nos ameaça.
O Zé está de partida
nas Devesas para o barco
que o há-de levar a Moçambique
e o ar da estação devassado
por lágrimas e gritos.
Entre a multidão
que se atravessa à frente
do comboio para prolongar o último adeus,
a última despedida,
encontro-me eu,
pequeno na desgraça,
em busca de auxílio.
Alguém que passa,
ao ver o meu terror,
pergunta-me de onde sou.
E eu,
com um soluço imenso preso na garganta,
respondo que dali,
(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)
Foto: © de Amadeu Baptista
Palavras sentidas... de imensa riqueza.
ResponderEliminarBom dia Poeta Amadeu
É um prazer apreciar tua obra.
Carinhoso abraço.