domingo, 24 de julho de 2011

Vida adulta / 8

MIL NOVECENTOS E OITENTA



Em frente ao mar,

com as glaucas ondas esmeralda

a ruminar a areia

e o vento a ressumar na pedra

um desabrigo de equinócios e regressos,

penso no desamor

com que amo a minha filha,

o seu perfil estreme,

as suas mãos aéreas,

o seu húmido olhar sobre quem passa.



E desprendo um assobio,

a minha canção triste

por me encontrar sereno

perante a maldição.



Com esta aptidão para a dissipação

e a blasfémia,

e o pasmo sobre a tarde,

sou insuportável como a chuva do norte,

e nada me desculpa pelo medo.



(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)


Foto: © de Amadeu Baptista

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