Um poema de Iannos Ritsos
OPERÁRIO DA PALAVRA
Trabalhou toda a vida duramente, sem pretextos,
com ardor, com exaltação, quase com fé na imortalidade
e sem dúvida na sua imortalidade. Até que uma noite
de súbito soprou o vento. Soou sozinha a porta.
Via as estátuas cair de boca para baixo. Deu-se conta.
As palavras que tinham escrito assim calorosas, anos e anos,
petrificaram; sentiu-as sob os dedos
como a seca e neutral pele de um animal morto.
No dia seguinte, no entanto, prosseguiu regularmente o seu trabalho
e chegou a confundir imortalidade com mortalidade,
trabalho, embriaguez e esquecimento,
mas distinguiu com exactidão o que é o trabalho
do que é vaidade e orgulho. E o toque
do relógio tinha o som de um tambor dentro da noite
dando ritmo à marcha de sonolentos soldados
entre duas batalhas.
Versão minha - © Amadeu Baptista
Iannos Ritsos nasceu na Grécia a 1 de Maio de 1909. Aderiu ao Partido Comunista Grego, em 1931. Publicou Tractor, em 1934, inspirado no futurismo de Maiakovski. Devido às suas ideias políticas, algumas das suas obras foram queimadas em público. Foi internado em vários campos de reabilitação. No entanto, a sua produção poética é imparável, com dezenas de títulos. Em 1956, é-lhe atribuído o prémio nacional de poesia pelo livro Sonata ao Luar. Conjuntamente com Giorgios Seferis e Odysseus Elytis, é considerado um dos mais importantes poetas gregos do século XX. Faleceu a 11 de Novembro de 1990.
Adorei conhecer, ler e ouvir.
ResponderEliminarBelíssimo, aqui!
Fica o convite: apareça no Pulsar Poético.
http://pulsarpoetico.zip.net
Infelizmente não posso ouvir. O sistema de som do CJ está desligado.
ResponderEliminarAbraço!