terça-feira, 5 de julho de 2011

Iannos Ritsos


Um poema de Iannos Ritsos

OPERÁRIO DA PALAVRA








    Trabalhou toda a vida duramente, sem pretextos,


com ardor, com exaltação, quase com fé na imortalidade


e sem dúvida na sua imortalidade. Até que uma noite


de súbito soprou o vento. Soou sozinha a porta.

Via as estátuas cair de boca para baixo. Deu-se conta.


As palavras que tinham escrito assim calorosas, anos e anos,


petrificaram; sentiu-as sob os dedos

como a seca e neutral pele de um animal morto.



    No dia seguinte, no entanto, prosseguiu regularmente o seu trabalho


e chegou a confundir imortalidade com mortalidade,


trabalho, embriaguez e esquecimento,

mas distinguiu com exactidão o que é o trabalho


do que é vaidade e orgulho. E o toque


do relógio tinha o som de um tambor dentro da noite


dando ritmo à marcha de sonolentos soldados


entre duas batalhas.


Versão minha - © Amadeu Baptista



Iannos Ritsos nasceu na Grécia a 1 de Maio de 1909. Aderiu ao Partido Comunista Grego, em 1931. Publicou Tractor, em 1934, inspirado no futurismo de Maiakovski. Devido às suas ideias políticas, algumas das suas obras foram queimadas em público. Foi internado em vários campos de reabilitação. No entanto, a sua produção poética é imparável, com dezenas de títulos. Em 1956, é-lhe atribuído o prémio nacional de poesia pelo livro Sonata ao Luar. Conjuntamente com Giorgios Seferis e Odysseus Elytis, é considerado um dos mais importantes poetas gregos do século XX. Faleceu a 11 de Novembro de 1990.

2 comentários:

  1. Adorei conhecer, ler e ouvir.
    Belíssimo, aqui!
    Fica o convite: apareça no Pulsar Poético.

    http://pulsarpoetico.zip.net

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  2. Infelizmente não posso ouvir. O sistema de som do CJ está desligado.
    Abraço!

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