segunda-feira, 18 de julho de 2011

Vida adulta / 4

MIL NOVECENTOS E SETENTA E SEIS



A primeira vaga ata os atacadores

das sapatilhas e foge,

à frente das pedras.



A segunda vaga prepara o cocktail molotov,

avança sobre a barreira em passadas largas,

aponta o engenho com o braço erguido,

mas falha,

falha o carro do piquete.



A terceira vaga pede um ovo estrelado

suplementar,

divaga sobre o amor e aquela mulher secreta

que secretamente ama,

quando não põe os óculos.



A quarta vaga está no porvir,

ascende ao prodigioso vazio e propõe,

como síntese,

a água, a terra, o fogo, o ar.



A quinta vaga ainda está por nascer.



(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)



Foto: © de Amadeu Baptista

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