MIL NOVECENTOS E SETENTA E UM
O meu pai está vivo e é cruel,
pouso as mãos nos joelhos e fico
a olhar.
Alheio, tudo alheio à minha volta,
fico a vê-lo sem mais
e calo.
Então, a porta abre-se
e, com ela, a abrir-se,
chega não sei de onde muita gente
que o invectiva e ordena
que não cesse
de gritar,
e lhe entrega uma corda e um punhal.
“Agora, escolhe” – dizem-lhe.
“A corda ou o punhal?”
E vejo-o vacilar.
E vejo-o suspender-se sobre o tempo
e regressar a casa
muito calmo.
(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)
Foto: © de Amadeu Baptista
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