segunda-feira, 11 de julho de 2011

A adolescência / 6

MIL NOVECENTOS E SETENTA E UM



O meu pai está vivo e é cruel,

pouso as mãos nos joelhos e fico

a olhar.



Alheio, tudo alheio à minha volta,

fico a vê-lo sem mais

e calo.



Então, a porta abre-se

e, com ela, a abrir-se,

chega não sei de onde muita gente

que o invectiva e ordena

que não cesse

de gritar,

e lhe entrega uma corda e um punhal.



“Agora, escolhe” – dizem-lhe.



“A corda ou o punhal?”



E vejo-o vacilar.



E vejo-o suspender-se sobre o tempo

e regressar a casa

muito calmo.



(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)



Foto: © de Amadeu Baptista

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