sábado, 9 de julho de 2011

A adolescência / 4

MIL NOVECENTOS E SESSENTA E NOVE



Profusamente ilustrada,

com tábuas cronológicas

e quadros estatísticos,

adquirimos a grande enciclopédia

para jamais a abrirmos.



Se a consultássemos,

ainda que à sorte,

poderíamos encontrar

o deflagrar da fortuna

ou o calor da conquista

num mínimo brevete

em que se registasse

o ano do nosso nascimento

e o da nossa morte,

o nome utilizado para melhor disfarce,

por nós,

ou por alguém que vai chegar,

o palafreneiro

que no século XIII,

calcorreou o mundo a procurar-nos.



Mandasse eu e a vida,

a nossa e a dos outros,

haveria de ter um registo infinito

para memória futura,

dos homens que foram, são e hão-de vir a ser

vítimas potenciais

do juízo.




(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)



Foto: © de Amadeu Baptista
 
 
 

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