MIL NOVECENTOS E SESSENTA E NOVE
Profusamente ilustrada,
com tábuas cronológicas
e quadros estatísticos,
adquirimos a grande enciclopédia
para jamais a abrirmos.
Se a consultássemos,
ainda que à sorte,
poderíamos encontrar
o deflagrar da fortuna
ou o calor da conquista
num mínimo brevete
em que se registasse
o ano do nosso nascimento
e o da nossa morte,
o nome utilizado para melhor disfarce,
por nós,
ou por alguém que vai chegar,
o palafreneiro
que no século XIII,
calcorreou o mundo a procurar-nos.
Mandasse eu e a vida,
a nossa e a dos outros,
haveria de ter um registo infinito
para memória futura,
dos homens que foram, são e hão-de vir a ser
vítimas potenciais
do juízo.
(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)
Foto: © de Amadeu Baptista
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