domingo, 17 de julho de 2011

Vida adulta / 3

MIL NOVECENTOS E SETENTA E CINCO



Doze hectares de terra

que ninguém cultivava

pertencem, agora, à cooperativa divina.



Uns trouxeram grão,

outros alfaias,

e as raparigas os olhos grandes

e os cabelos soltos.



Vou ver o gado

e apaixono-me

pela quietação bovina,

aquela paz

de focinho afilado

e manchas amarelas no dorso.



Aprendo a ordenhar.



O leite dá o sentido

da luz a esta sombra

e, quando cai no balde,

canta com inquebrantável carinho.



Comemos à mesma mesa,

com o corpo no corpo

dos que aqui vieram

para aceder ao princípio,

ao prévio, à primícia,

à colheita.



À noite encontramo-nos

com o disco da lua sobre nós.



Não sendo ainda isto a revolução,

estamos perto?


(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)




Foto: © de Amadeu Baptista

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