MIL NOVECENTOS E SETENTA E CINCO
Doze hectares de terra
que ninguém cultivava
pertencem, agora, à cooperativa divina.
Uns trouxeram grão,
outros alfaias,
e as raparigas os olhos grandes
e os cabelos soltos.
Vou ver o gado
e apaixono-me
pela quietação bovina,
aquela paz
de focinho afilado
e manchas amarelas no dorso.
Aprendo a ordenhar.
O leite dá o sentido
da luz a esta sombra
e, quando cai no balde,
canta com inquebrantável carinho.
Comemos à mesma mesa,
com o corpo no corpo
dos que aqui vieram
para aceder ao princípio,
ao prévio, à primícia,
à colheita.
À noite encontramo-nos
com o disco da lua sobre nós.
Não sendo ainda isto a revolução,
estamos perto?
(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)
Foto: © de Amadeu Baptista
FOI O TEMPO DO SONHO
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