MIL NOVECENTOS E OITENTA E QUATRO
Recolhemos o gato
na madrugada de sábado,
recém-nascido, ainda com os olhos fechados.
Como uma mãe a um filho,
vigiamos-lhe o sono,
compramos um biberão e leite em pó,
uma tetina,
uma manta de reduzidas dimensões,
branca,
com um desenho negro no dorso,
para lhe lembrar a raça.
Não tendo resistido,
morreu serenamente,
num súbito vagido
e o pêlo encharcado,
quem sabe se pelo esforço
da grande travessia.
Por última mortalha,
metemo-lo num sobrescrito,
para continuar a viagem.
(in Açogue, Corunha, Espiral Maior, 2009)
Foto: © de Amadeu Baptista
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