quarta-feira, 29 de junho de 2011

Eu, na infância / 8



MIL NOVECENTOS E CINQUENTA E NOVE

Em 1959 fiz seis anos no dia seis de Maio.

O mundo era, ainda, exíguo para mim,
que caçava borboletas e ansiava, à noite,
por uma bicicleta igual à dos rapazes
da casa em frente à minha,
ou uma fisga,
ou um comboio eléctrico.

Também à noite,
quando a temperatura refrescava
e todos iam para o bosque
encontrar-se com os fantasmas,
eu subia e descia a minha rua,
à procura de pedras pequeninas
que emitissem som e dessem luz
para guardar nos bolsos,
e ter a ilusão de que as minhas guloseimas
eram reais.

Pouco sabia, ainda,
da importância que há sempre
no voo subtil dos pirilampos
a sobrevoar os quintais,
as sebes,
os beirais
e do peso que tem cada palavra
num bem determinado território,
seja ele mineral ou animal,
ou do domínio da pura fantasia.

Por isso me convenço
que, por essas pedras pequenas que buscava
e eram azougados pirilampos
a tracejar o escuro,
ainda hoje escrevo poesia.


(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)





Foto: © de Amadeu Baptista

2 comentários:

  1. Esses azougados pirilampos rasgaram as duras pedras e trouxeram à luz a fantasia que te marca os passos.
    Um abraço Amadeu Baptista

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  2. Cuando eramos felices con las simples cosas ,
    que de simples no tienen nada ... tesoros
    guardados en nuestra memoria como algo
    inolvidable y por suerte vivido !
    Hermoso tu post y tu blog .
    Estoy momentaneamente apartada de blogger ,
    mas es un placer leerte .
    Un cariño .

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