terça-feira, 28 de junho de 2011

Eu, na infância / 7



MIL NOVECENTOS E CINQUENTA E OITO

Com cinco anos só é possível tentar adivinhar
as idades da terra.

As mãos ainda pequenas
vão ao mar pela primeira vez
e aprendem como as coisas
pertencem a um caos
de frio e de calor
muito parecido com a pele da mãe.

Alisam, suavemente,
a areia branca,
tentando que ela fique
entre os dedos para sempre,
temendo que perdure
entre os dedos
enrugados.

Depois, os braços erguem as mãos
mais facilmente,
levando-as a voar por sobre as ondas
e o ruído intenso
da rebentação,
que nunca mais será esquecido,
uma vez que a inocência prevalece
e a agilidade selvagem da criança
se prepara
para os naufrágios subsequentes.

Com cinco anos, em estado de graça.



(in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)



Foto: © de Amadeu Baptista

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