Talvez porque tenha o andamento de Ítaca ou de Tróia
tenho posto casa ao mal, para meu dessassossego.
Mas quando me perguntam se sou nau ou cavalo
sempre me fico a confrontar a tormenta. Talvez seja
o que o destino me reserva. Por isso, nem sequer me desaprovo,
embora o coração abdique muitas vezes
e raramente saiba onde estou. De Ítaca ou de Tróia
sei que sou. E assim é que avanço, a tomar encruzilhadas
como força de temperamento e de resgate
do que vou sendo, mesmo sem que o seja.
É miserável destino este que tenho,
mas é o meu, cabendo-me em sorte
ser cavalo que naufraga e nau que corre
à frente de mim mesmo sem que me aviste.
(in Ítaca, n.º 3, Lisboa, 2011)
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