manuel a. domingos, poeta convidado
3 POEMAS INÉDITOS
Contrapunctus 1
Sento-me à mesa
O lápis em vez da caneta
já vai algum tempo
Não sei o que espero
nem a razão deste verso
Coisas há impossíveis
de definir: tu na sala
lês um livro qualquer
e nesse livro também tu
de pernas cruzadas
na luz do fim do dia
O silêncio da casa é
um mundo novo
que não vem em nenhum
compêndio ou gramática.
Contrapunctus 5
Acordar tarde é
uma opção entre outras
como por exemplo
ficar abraçado a ti
ouvir o filho dos vizinhos
gritar pela mãe
vezes e vezes sem conta
decidir que não está
um dia tão mau para sair
Por isso dispenso
a poesia a esta hora
Que mais podemos fazer
se lá fora chove
e o edredão aquece mais
que todo o sol do mundo?
Contrapunctus 7
Há sempre uma luz
que amplia a noite
devolvendo a tua sombra
a dançar no estuque
Seria um exagero dizer
que quero para sempre
aqui ficar mas tenho
esta tendência para
a hiperbólica visão dos dias
para ser decadente
passear pela rua cigarro
atrás de cigarro
praguejar ininterrupta-
mente logo eu que nunca gostei
de advérbios de modo
Fotos ilustração dos poemas © de Amadeu Baptista
manuel a. domingos (1977) tem colaboração dispersa em várias revistas: Praça Velha (Guarda), Palavra em Mutação (Porto), Sulscrito (Faro), Big Ode (Lisboa), Sítio (Torres Vedras), Piolho (Porto) e A Sul de Nenhum Norte (Coimbra). Foi colaborador do suplemento literário Correio das Artes (João Pessoa, Brasil). Publicou, até hoje, três livros de poesia: Entre o Silêncio e o Fogo (AQUILO Teatro, 2002), Mapa (Livrododia, 2008), Teorias (Edição do Autor, 2011).
Sem comentários:
Enviar um comentário