segunda-feira, 16 de abril de 2012

O Bosque Cintilante # 25

Georges Bizet: Intermezzo, da Suite Arlésienne

Coisas admiráveis, indeléveis, onde o escopro das mãos
submete a alma à intranquilidade, vento de coisa nenhuma, ardor
arborescente da pele e da morte, a finitude
do olhar a demarcar a fronteira entre a glória e o oiro, a alma
e os seus instrumentos precários, um pau, um ferro, aquela boca hiante
à entrada das grutas, a inútil arma de arremesso,
a desprotecção, a carência, o número dos vivos
a engrossar a legião dos anjos expulsos, sem nome,
arrastando na lama apenas um nome antiquíssimo, erosão
da montanha, inquieto mistério, levante
de grandes sóis semoventes,
transfiguração da inocência,
outros domínios.

in O Bosque Cintilante, Maia, Cosmoroama, 2008
© de Amadeu Baptista
 


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