(a minha filha Raquel, com o meu neto, Afonso)
POEMA PARA A MINHA FILHA RAQUEL, QUE FAZ HOJE ANOS
De súbito, sabemos que não perdemos o coração.
O coração eleva-se ao ermo, cinge-se à memória,
passa a sufragar tudo o que resta – e aparece.
Aparece a brilhar num espaço negro.
De súbito, tudo volta para trás. Tudo é cativo.
E volto a passar as mãos pelo teu cabelo,
essas ínfimas aves que chegaram a uma praia
que ninguém sabe que existe, o coração.
De súbito, a morte faz sentido. Não se sabe
que quantidade de dor estiolou na árvore, como ficaram
roxas as mãos, e o mar, a sua superfície azul, foi
os teus olhos, os meus olhos nos teus num movimento atroz.
De súbito, o coração aparece – é um barco
à deriva no teu peito, e tudo o que te pertence me pertence,
e é por ti que chega, e é a ti que reconhece quando a treva vem,
e é por ti que chega, e é a ti que reconhece quando a treva vem,
e nada mais vem ao coração.
inédito
poema e fotos © de Amadeu Baptista
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