5 POEMAS
É O PÁSSARO NA ÁRVORE
É o pássaro na árvore o que é mais importante
É a árvore com o pássaro o que é mais importante
São a árvore e o pássaro o que é mais importante
Que eu veja a árvore e o pássaro na árvore
Que a árvore e o pássaro estejam lá quando os vejo
Que eu saiba que tu vês o pássaro na árvore e a árvore
Que sejamos nós os que vêem a árvore com o pássaro
É isso, é o pássaro na árvore o que é importante
Que sejamos nós os que vemos enquanto o vemos
É o pássaro na árvore o que é mais importante
Não somos nós, é o pássaro na árvore
É a árvore com o pássaro o que é mais importante.
São a árvore e o pássaro os que são verdade
É a música que há no trivial
É este pássaro e esta árvore que são tão importantes
É a música no trivial o que é misterioso
É o trivial do mistério o que é a música
É o trivial na música o que é verdade
É isso do que está ali o que é tão importante
É isso do que não está ali o que é tão importante
É o trivial o que é tão misterioso
Não há pássaro nem árvore que sejam importantes
Que eu veja o pássaro e a árvore não é importante
Que sejamos nós os que vemos não é o mais importante
É o trivial atrás do signo o que está presente
São os erros na enumeração os que são inimitáveis
É o trivial da frase o que é substancial
O incomparável é o banalmente presente
Aqui junto à janela não há círculos nem semicírculos
Junto à janela está a árvore com o pássaro, isso é o mais importante
Não há linhas rectas nas tábuas da cerca
Não há nada direito nos cabos dos postes
(que – também – cantam)
Uma árvore é uma árvore –
Esta árvore trivial é diferente das outras
Todas as árvores triviais são diferentes
Esta árvore com este pássaro existe (também em mim)
Det er œg i mit skœg, 1966
DO NADA VENS
Do nada vens andando
como num sonho
do nada vens
andando suavemente
da obscuridade surges
como uma sombra de luz
não do sol, não
da noite das lâmpadas
mas do nada, andando suavemente
Ateliers, 1967
Vi em ti
alguém que quer ser encontrada
Vem!
Ateliers, 1967
PACIÊNCIA
Um método de esperar
sem esperar nada
manter vida num fogo
sob um céu corrente
I den høje evighed lød et bilhorn, 1970
EVIDENTE
– Deixa-me tocar-te
Estiveste muito só muito tempo,
por isso agora creio em ti
No mundo do homem
são os loucos que detêm o poder
E são os loucos
os que anseiam tê-lo
– O poder é necessário
– Esse é o teu problema
– Não quero que sejas diferente
– Então, temos que decidir!
– Oxalá o mundo seja como és tu
– Tu és a verdade e a vida
De nødstedte djœvle de er vœrste, 1972
Versão minha - © Amadeu Baptista
Jørgen Gustava Brandt, nasceu a 13 de Março de 1928 e faleceu a 1 de Dezembro de 2006, em Copenhagen. Fez estudos comerciais. Fez a sua primeira exposição de pintura em 1946 e publicou o seu primeiro livro de poesia em 1949. Jornalista e colaborador em programas radiofónicos, tanto literários como dramáticos. Traduziu Henry Miller e Dylan Thomas. Foi membro da Academia Dinamarquesa de Letras desde 1969.
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