domingo, 27 de maio de 2012

Jørgen Gustava Brandt


5 POEMAS


É O PÁSSARO NA ÁRVORE

É o pássaro na árvore o que é mais importante
É a árvore com o pássaro o que é mais importante
São a árvore e o pássaro o que é mais importante
Que eu veja a árvore e o pássaro na árvore

Que a árvore e o pássaro estejam lá quando os vejo
Que eu saiba que tu vês o pássaro na árvore e a árvore
Que sejamos nós os que vêem a árvore com o pássaro
É isso, é o pássaro na árvore o que é importante

Que sejamos nós os que vemos enquanto o vemos
É o pássaro na árvore o que é mais importante
Não somos nós, é o pássaro na árvore
É a árvore com o pássaro o que é mais importante.

São a árvore e o pássaro os que são verdade
É a música que há no trivial
É este pássaro e esta árvore que são tão importantes
É a música no trivial o que é misterioso

É o trivial do mistério o que é a música
É o trivial na música o que é verdade
É isso do que está ali o que é tão importante
É isso do que não está ali o que é tão importante

É o trivial o que é tão misterioso
Não há pássaro nem árvore que sejam importantes
Que eu veja o pássaro e a árvore não é importante
Que sejamos nós os que vemos não é o mais importante
É o trivial atrás do signo o que está presente

São os erros na enumeração os que são inimitáveis
É o trivial da frase o que é substancial
O incomparável é o banalmente presente

Aqui junto à janela não há círculos nem semicírculos
Junto à janela está a árvore com o pássaro, isso é o mais importante
Não há linhas rectas nas tábuas da cerca
Não há nada direito nos cabos dos postes
                                                        (que – também –  cantam)

Uma árvore é uma árvore –
Esta árvore trivial é diferente das outras
Todas as árvores triviais são diferentes
Esta árvore com este pássaro existe (também em mim)


Det er œg i mit skœg, 1966




DO NADA VENS

Do nada vens andando
como num sonho
do nada vens
andando suavemente

da obscuridade surges
como uma sombra de luz

não do sol, não
da noite das lâmpadas
mas do nada, andando suavemente


Ateliers, 1967




Vi em ti
alguém que quer ser encontrada

Vem!


Ateliers, 1967



PACIÊNCIA

Um método de esperar
sem esperar nada
manter vida num fogo
sob um céu corrente


I den høje evighed lød et bilhorn, 1970




EVIDENTE

– Deixa-me tocar-te
Estiveste muito só muito tempo,
por isso agora creio em ti

No mundo do homem
são os loucos que detêm o poder
E são os loucos
os que anseiam tê-lo
– O poder é necessário
– Esse é o teu problema

– Não quero que sejas diferente
– Então, temos que decidir!
– Oxalá o mundo seja como és tu
– Tu és a verdade e a vida


De nødstedte djœvle de er vœrste, 1972


Versão minha - © Amadeu Baptista




Jørgen Gustava Brandt, nasceu a 13 de Março de 1928 e faleceu a 1 de Dezembro de 2006, em Copenhagen. Fez estudos comerciais. Fez a sua primeira exposição de pintura em 1946 e publicou o seu primeiro livro de poesia em 1949. Jornalista e colaborador em programas radiofónicos, tanto literários como dramáticos. Traduziu Henry Miller e Dylan Thomas. Foi membro da Academia Dinamarquesa de Letras desde 1969.



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