quinta-feira, 10 de maio de 2012

Iannos Ritsos


ATÉ À MADRUGADA


    Chovia sobre a terra das altas urtigas.
Atrás delas gritavam grandes relógios e sinos.
Depois um tambor, logo outro – corria;
muitos tambores à meia-noite; o seu sangue
corria pelos pés e pelas mãos; ofegava;
tropeçou em algo e calou-se; a sua fúria cessou
tal como o seu medo, apenas uma tranquila pergunta:
qual seria o obstáculo – quase curiosidade.

    Assim, caída no chão, procurou com todos os seus membros,
levantou a cabeça cortada de uma estátua,
limpou-lhe os olhos, os relógios pararam,
também se calaram os sinos e os tambores.
       Amanhecia.
O que aguentava como uma criança nos braços
era o seu rosto. Pelos seus lábios corria
um floco de leite que tenuamente brilhava na madrugada.


Versão minha - © Amadeu Baptista



Iannos Ritsos nasceu na Grécia a 1 de Maio de 1909. Aderiu ao Partido Comunista Grego, em 1931. Publicou Tractor, em 1934, inspirado no futurismo de Maiakovski. Devido às suas ideias políticas, algumas das suas obras foram queimadas em público. Foi internado em vários campos de reabilitação. No entanto, a sua produção poética é imparável, com dezenas de títulos. Em 1956, é-lhe atribuído o prémio nacional de poesia pelo livro Sonata ao Luar. Conjuntamente com Giorgios Seferis e Odysseus Elytis, é considerado um dos mais importantes poetas gregos do século XX. Faleceu a 11 de Novembro de 1990.


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