sexta-feira, 25 de maio de 2012

João Tomaz Parreira


João Tomaz Parreira, poeta convidado


3 POEMAS




PARA DANÇAR UM TANGO

Um tango dança-se com faca
no olhar
e sapatos a acolchoar o silêncio
Um tango estilhaça
tudo o que está perto
o ar onde o corpo se contorce
onde as mãos afogam
mãos ou na cintura
navegam como se fosse
um rio de prata.







UM BEIJO NO BOSQUE

Fecharam os olhos
os duendes do bosque, o beijo
floriu nos arbustos, nos ramos
do sol, no perfume do vento
crepitou nos lábios
um segredo profundo
lançando raízes
o incêndio no bosque
fecharam os olhos
esquilos e aves
recuperam o canto
à volta do lume.








BANHO DE MAR

Começam por entrar as pernas
nuas hesitantes
e fincam-se como Rodes sobre o Egeu
a cintura depois
de inundados os calções
por fim o próprio umbigo
cordão que sempre nos ligou à vida
os braços nus abraçam
o que do sal começa a fervilhar na onda
como um feixe de dedos nossas mãos
vão abrindo sulcos na imaginação
até ao horizonte.



Fotos (ilustração dos poemas): © de Amadeu Baptista

Poemas© de João Tomaz Parreira

João Tomaz Parreira ou J.T.Parreira, Lisboa, 1947. Poeta. 6 livros de poesia (Este Rosto do Exílio,1973; Pedra Debruçada no Céu, 1975; Pássaros Aprendendo para Sempre, 1993; Contagem de Estrelas, 1996; Os Sapatos de Auschwitz, 2008; e Encomenda a Stravinsky, 2011 ). Um ensaio teológico (O Quarto Evangelho - Aproximação ao Prólogo, 1988). Participação em Antologias. Escreve na revista  evangélica «Novas de Alegria» desde 1964 e no Portal da Aliança Evangélica Portuguesa. Na juventude escreveu poesia e artigos no suplemento juvenil do "República", entre 1970-1972.

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