Gioacchino Rossini: O Barbeiro de Sevilha, abertura
Estão abertas para os lugares as moradas dos deuses,
o afã divino esvoaça sobre as nossas cabeças,
as ondas rendem-se à serena agitação dos ventos,
são como árvores iluminadas dentro do mar que se inclina
para um rosto flutuante. Aqui o tempo regressa
à inúmera voltagem das coisas, um vidro rasga
o sobressalto das águas, uma gaivota resplandece
sobre a secreta qualidade dos enigmas, uma palavra grená
que evolui sobre os ombros. Amo-te hoje como nunca
amei ninguém, a brancura atravessa esta ilha de fogo, o mar
procura-nos, espera-nos, neste alimento faz-nos crescer
para o abismo, os ramos
de algo calcinado sob a subtil transparência do olhar.
Eis as mãos com que te encontro, a luz
com que te posso adivinhar e como recrudesce
a bátega para tua e nossa esperança, sobre o mundo
irrompe o silêncio onde uma chama
amplia as nossas sombras,
o infinito onde tudo se perde e tudo se transforma.
in O Bosque Cintilante, Maia, Cosmoroama, 2008
© de Amadeu Baptista
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