segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ernst Orvil




4 POEMAS


CARGAS

As cargas que levo são minhas.
Sou o seu dono. Nenhum ladrão
irrompe em mim e me rouba
as cargas que levo.

As cargas que tu levas
ninguém tas tira. Deténs-te
e sentes estranhamente pesadas
no sangue as cargas que levas.

Uma pessoa
não está só. Uma pessoa
com as mãos cheias de
dias e de noites, o amargo peso
das cargas.

Desafortunado o que não tem propriedades.
E o que não tem uma carga
que levar. O sentido da vida é ser vivida
e o das cargas serem levadas.
O homem não está só
sob o jugo.

Ama as cargas que
te unem à vida.
A morte é o ladrão.
Despoja-te das tuas cargas.



            Kommer du til meg, 1947



RELATIVIDADE

Quando os canhões retumbam
lá em Rakke
move-se a borboleta
para outra flor.

Ou visto da perspectiva
da borboleta: Quando se move
a borboleta para outra flor
retumbam os canhões em Rakke.



Brekasjer, 1970




O PERDEDOR

O perdedor vai pela vida
arrastando
um pesado fardo,
no fardo não há nada.

Não pára para descansar.
E desaparece
na sombra
de um bondoso Deus.



Nœr nok, 1980



EXISTÊNCIA

Anne voltou da escola
a dizer que na escola dizem que
Deus não existe. Eu disse-lhe
tu não deves acreditar nisso.

Bem, então Deus existe?
Não para os que não crêem,
disse-lhe, mas para os demais Deus
existe. Não é isso estranho?, disse Anne.

Sim, disse-lhe, é estranho.
É possível, disse Anne, não
existir e existir?
Sim, disse-lhe, para Deus é possível.


Videre, 1982


Versão minha - © Amadeu Baptista




Ernst Orvil, cujo verdadeiro nome é Ernst Nilsen, nasceu a 12 de Abril de 1898, em Kristiania e faleceu a 16 de Junho de 1985, em Oslo. Ficcionista, poeta e dramaturgo. Foi fortemente influenciado por Sigmund Freud e a psicanálise. Publicou mais de três dezenas de livros, sendo o primeiro, o romance Birger, datado de 1932. Em 1940, estreou-se como poeta, com Bølgeslag.

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