Dalila Moura Baião, poeta convidada
Três poemas:
LIMAS DE TERNURA
Os arcos escondem limas de ternura,
por entre a insónia da manhã
em que te espreito.
As mãos do tempo
trazem-me de volta ao espaço
e ao infinito
onde se aperfeiçoam as nuvens
e os olhos,
é com eles que tacteio o silêncio
e descanso o beijo
no lugar exacto onde nasce o sol!
A chuva, continua a fingir que cai!
por entre a insónia da manhã
em que te espreito.
As mãos do tempo
trazem-me de volta ao espaço
e ao infinito
onde se aperfeiçoam as nuvens
e os olhos,
é com eles que tacteio o silêncio
e descanso o beijo
no lugar exacto onde nasce o sol!
A chuva, continua a fingir que cai!
ASTROS E PÁSSAROS
Dói-lhe a noite,
no local exacto onde a lua espreita
por detrás da cabeleira dos astros
que irrompem no fascínio do mar.
Há resíduos que o vento enrola
e deposita para lá das árvores
e do luar...
A noite,
já doída no silêncio dos deuses,
cresce insubmissa...
Quando o luar envelhecer,
volta a ser manhã.
E as árvores, acolherão os pássaros
que se libertam no sopro do vento!
(para Amadeu Baptista)
Posso escrever ao poeta dos meus dias,
Aquele que me ensinou que a poesia não é pó de arroz
Nem um ímpeto de palavras a jorrar no papel.
Aquele que me disse
Que é preciso deixar a palavra a fermentar na essência
Que leveda dentro do peito que espreita a vida.
Dizer-lhe
Que hoje comecei a bordar o meu primeiro poema
A ponto grilhão
E que não é fácil desenredar as linhas
E lavrar no pano os enfeites de que todos gostam…
A charrua que sulca a palavra, também a amordaça e fere
Quando a terra se enruga e se tenta beber o mar com os olhos,
Quando todos os barcos parecem desembocar no mesmo apeadeiro
Como se a visão de deus se soltasse das estrelas
Em ímpetos de luz.
Dizer-lhe:
Agora começo a ter tempo
Para perceber que entre a chuva e o vento,
Há um equinócio a desbastar.
Tinhas razão – a omeleta não sabia a espargos –
E eu teimava que os tinha apanhado no campo,
Quando era apenas erva vulgar que me marcava dos dedos.
Obrigada! Vou esperar que as uvas amadureçam na videira
E cada bago que colher terá o sabor da espera…
O bordado, vai levar tempo até ser colocado sobre a mesa!
Depois, cairá nele o vinho, a invadir as linhas do ponto grilhão!
Fotos (ilustração dos poemas): © de Amadeu Baptista
Poemas: © Dalila Moura Baião
Dalila Moura Baião nasceu a 8 de Novembro de 1956, em Santo Estêvão, concelho de Benavente. É professora, exercendo na actualidade as funções de coordenadora Pedagógica na Ludoteca “O Moinho” em Setúbal e investigadora, encontrando-se a concluir a Tese de Doutoramento na Universidade de Huelva. Autora de três livros de Poesia: “Momentos” (1983); “Varandas de Luar” (2009) e “Amar em Chão de Mar” (2010).
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