quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Abdelmajid Benjelloun



QUEM PUXA AS CORREIAS DA MINHA RESPIRAÇÃO


A vida é uma pergunta a uma resposta que não é pergunta nem resposta.


A morte é uma lentidão imóvil, que não é nem lentidão nem imobilidade.


A mulher é uma ninfa celebrada, que não é nem uma ninfa nem uma festa.


O amor é uma impossibilidade possível que não é nem possibilidade nem impossibilidade.


O silêncio é um cosmos infinito que não é nem um cosmos nem um infinito.



O outro é um nós diferente que não é nem um nós nem um outro.


A razão é uma inteligência brumosa que não é nem uma inteligência nem uma bruma.


A palavra é uma interrupção da inteligibilidade, mas não é uma interrupção nem uma inteligibilidade.


O eco é um silêncio exasperado que não é nem um silêncio nem uma exasperação.


A viagem é uma permanência alheada que não é nem uma premanência nem um alheamento.


A morte é uma graça metafísica que não é nem uma graça nem uma metafísica.


As nossas respirações discutem sobre Deus, sem nós.


A eternidade é um matiz do silêncio ; os pássaros sabem-no, eles.


O homem não sabe nenhuma respiração de cor, por humildade extrema face a Deus.


Existimos a um milímetro de distância da eternidade, que é um silêncio invertido.


Por um pouco de eternidade, o homem aceita viver, mas por uma apoteose de Deus, recusa morrer.


Se o nosso corpo nos é dado unicamente para a nossa vida terrena, a respiração é-nos dada igualmente para a nossa externidade.


Só contam para mim os seres que fazem prova de intemperança com o céu.


Os seres humanos que não têm problemas de eternidade não me interessam.


A minha alma é uma esquadrilha de astros que dançam como electrões, para que as fadas os parem, para os tocar.

Todo o sorriso tem sede de Deus.


Podemos esgotar todas a nossas decrepitudes mas a nossa respiração permanece dirigida a Deus.


Quais são os homens que estão verdadeiramente em luz com a luz de Deus ?


Só o silêncio nos separa de Deus, em todo o caso.


Mesmo o homem mais piedoso se comporta com Deus como se lhe fizesse para pagar a todo o momento um preço para entrar no coração.


Respiramos sempre em primeiras núpcias com Deus, e o mais não interessa.


Os santos cuidam dentro dos corações férteis uma monocultura divina.


(in revista Di Versos, nº. 16, Janeiro de 2012 - tradução © de Amadeu Baptista)



Abdelmajid Benjelloun. Nasceu em Fez, Marrocos, em 1944.
Artista plástico e especialista em história marroquina contemporânea,publica poesia e aforismos desde 1976, ano do seu livro de estreia nesta área : Etres et choses,le même silence. Outros títulos do autor : Qui tire sur les bretelles de ma  respiration ?, 1989 ;Une mouette réveillée d'une tempête,1990.Qui tire sur les bretelles de ma respiration?,1991 (edição ampliada);Murmure vivrier,1991 ; Les sept cieux apparents du mot,1993 ;Dogme et friandise ou pulsion de sourire, 1996 ;La flûte des origines ou la danse taciturne, 1997 ; L'éternité ne penche que du côté de l'amour. 1998 ; Le discobole amoureux et l'écho ou les années inutiles de l'horizon, 1998 ; Une femme à aimer comme on aimerait revivre après la mort, 1998 ; L'amour rajeunit l'univers et même la création,1999 ;Paroles déçues d'esplanade, 1999 ; Cette hébétude totémique avec elle,1999 ; Aphorismes, entre le lent et le long de l’an 1994,2001 ; A un détail près de l’éternité, recueil d’aphorismes, 2002 ; L’éternité ne penche que du côté de l’amour suivi de Dogme et friandise ou la pulsion du sourire et de Une femme à aimer comme on aimerait revivre après la mort, 2004 ; Nouvelles en lignes, fragments de miroir au noir, 2006 ;L’Eternité, belle comme le visage de mes enfants, 2007 ;L’âme fréquente aussi les beaux quartiers de l’esprit, 2008 ; Cette petite étoile frémissante du matin, 2008 ; Solstice de la soif, 2008 ; Un ruisseau n’est pas en manque d’âme, 2008. Foi traduzido em árabe, chinês, coreano,croata, castelhano e romeno.

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