quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Gisela Ramos Rosa


Gisela Ramos Rosa, poeta convidada


TRÊS POEMAS


Quando nasci voltei a reaprender a traduzir o mundo maior em que nascia e aquele
primeiro mundo pele de minha mãe,
Era a luz voltando a entrar em relevo pelos olhos sem que
a memória anterior se tivesse extinguido
tradução e agenciamento, fluência e água amadurecendo a observação
reintegrei os gestos as formas e abri um aqueduto livre no coração
onde guardei em segredo imagens originais
compreendi que na folha em branco os espelhos se podem confundir
com a rigidez do olhar onde as pedras se fixam,
assentei o verbo na tradução das manhãs anteriores
da primeira pele descobrindo as camadas do Livro
com o brilho inquieto do real sobre as mãos

09-07-2011




E é assim que te vejo quando me olhas centrado e me dizes que já foste a infância e que nesse lugar havia crianças e fronteiras, esconderijos, bolas, abafadores e ...aquelas casas de madeira que idealizavas no cimo das árvores.....hoje, quando encontro os teus olhos percebo como são difíceis os esconderijos sem bússola... como destinos fora do lugar.... e não sei se te vejo ou me revejo lembrando a carta que escrevi a minha mãe insistindo para que ela compreendesse o modo como os meus olhos divisavam a paisagem.....agora, nesta minúcia em que me pego a ti, nesta proximidade dos olhos, da pele.....neste acolhimento tão fiel dos amigos, invento um círculo perfeito para os olhos que persistem irrequietos, fora do mapa, em busca de ramos para tornar esta folha num ninho improvável, que nos ligue como se uma flor nascesse por dentro de nós....

27-11-2010



As palavras mais vãs são aquelas que habitam o livre arbítrio dos dias, Afasto-as do poema com a Alma por haver um rio entre as muralhas
onde os olhos se misturam com uma pronúncia muda
invoco o oceano íntimo que trago no peito
percorrendo a lucidez das superfícies nuas
amo o princípio evidente das coisas, dos seres uma pedra, a boca, a baga desigual na saliva dos homens dissolvendo os dias
vou encontrando a luz, palavra ou barca atravessando o dia até ao lugar do visível
por detrás dos olhos onde todas as águas se diluem e encontram

2-07-2011


Gisela Ramos Rosa (1964, Maputo) é Perita em Documentos no Laboratório de Polícia Científica da Polícia Judiciária em Lisboa. Licenciou-se em Relações Internacionais e é Mestre em Relações Interculturais. Tem um livro publicado em conjunto com António Ramos Rosa - Vasos Comunicantes (diálogo poético) de 2006 e tem colaborado com poemas em várias Antologias e Revistas de poesia. 

Fotos: © de Amadeu Baptista; Poemas: © de Gisela Ramos Rosa

4 comentários:

  1. Muito obrigada pelo gesto Amadeu Baptista!
    Um abraço Gisela

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  2. Adorei estes poemas da Gisela. Fortes e límpidos.
    Beijos para ela e para ti.

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  3. Um beijo Inês Ramos Obrigada.

    Um abraço grato e renovado a Amadeu Baptista.


    Gisela

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  4. Magnífico poema da Gisela R. Rosa!
    Um abraço e muito obrigada! :)

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