sábado, 10 de setembro de 2011

Vida adulta / 16

MIL NOVECENTOS E OITENTA E OITO

A minha mãe morreu ontem à tarde.

Ontem à tarde fui-me pelas exéquias
à igreja de S. Pedro,
atordoado
pelo ínvio folclore daquilo tudo,
o algodão hidrófilo nas narinas,
as mãos justapostas por uma ligadura,
o cheiro enjoativo das flores,
o silêncio soturno,
entrecortado
por suspiros e gritos
e as pressurosas obscenidades do costume.

Devia-se morrer e desaparecer,
para que só uma certa luz
nos encontrasse.


( in Açogue, Corunha, Espiral Maior, 2009)


Foto: © de Amadeu Baptista

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