MIL NOVECENTOS E OITENTA E OITO
A minha mãe morreu ontem à tarde.
Ontem à tarde fui-me pelas exéquias
à igreja de S. Pedro,
atordoado
pelo ínvio folclore daquilo tudo,
o algodão hidrófilo nas narinas,
as mãos justapostas por uma ligadura,
o cheiro enjoativo das flores,
o silêncio soturno,
entrecortado
por suspiros e gritos
e as pressurosas obscenidades do costume.
Devia-se morrer e desaparecer,
para que só uma certa luz
nos encontrasse.
( in Açogue, Corunha, Espiral Maior, 2009)
Foto: © de Amadeu Baptista
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