sábado, 17 de setembro de 2011

Hannes Pétursson, três poemas




MARIA ANTONIETA


Como mar encrespado é a grande multidão
que vista da carroça se assemelha a um escolho.
Em silêncio, de pé, olha a multidão,
suave e fresca
é a brisa. Mais além espera
a lâmina afiada no alto do patíbulo
dominando o gentio. Escuta exausta
os gritos que lhe chegam distantes
abatida sob a sua amarga prisão.

Como vai compreender que toda essa exaltada
chusma impura, essa arma cruel
que brilha ensanguentada e implacável
como monstro maldito semeando horror e morte
seja o sonho alvo dos pensadores, o futuro,
a única opção, melhor e mais autêntica

que aquele que agora se deve erradicar:
que todo o corrupto e o maldito
seja ela que a plebe olha em silêncio
pura e pálida?

                                               (in; Kvaedasafn, 1955)



AS PALAVRAS CALADAS

As palavras caladas
do poema são calcadas
nas guerras - também
nos lugares arrebatados
da hora da mudança, em que os dias
andam à deriva como feno agitado.

As palavras caladas
do poema.
Mas renascem
na terra arrasada
pelo ferro e as vozes.

                                               (in Heimkynni vid sjó, 1980)



O ALAZÃO CONTEMPLA...

O alazão contempla
os reflexos brilhantes
do rio que submerge
as suas patas no vau.

E o cavalo crê
que voa, que a aurora
surge da sua garupa
com as suas asas de cisne.

Mas não levanta voo.
Próximo está
a árida orla
que alcança
vadeando.

Mordisca a erva.
Caem molhados
os raios
dos seus flancos sem asas.

                               ( in 36 ljód, 1983)


Versão minha; © de Amadeu Baptista



Hannes Pétursson nasceu em  Sauðárkrókur, no norte da Islândia, a 14 de Dezembro de 1931. Graduou-se na Universidade de Reykjavík, em 1952. Estudou alemão nas Universidades de Colónia e Heidelberg, de 1952 a 1954. Entre 1959 e 1976, geriu uma pequena editora, onde publicou livros sobre a história local da região de Skagafjörður.
O seu primeiro livro de poesia, Kvæðabók, foi publicado em 1955. Desde então publicou inúmeras recolhas de poesia, textos de ficção, ensaio e biografia. Traduziu para islandês, entre muitos outros, a Metamorfose, de Kafka, em 1960.  Foi eleito, em 1991, Membro Honorário da União de Escritores da Islândia. Entre as inúmeras distinções recebidas, ressalta o Grande Prémio Literário da Islândia, pelo seu livro de 1993, Eldhylur. Vive em Álftanes.

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