MIL NOVECENTOS E NOVENTA E UM
Velhas coisas são as que guardamos
no sótão
e não queremos devolver à procedência,
uma vara de garrafas vazias,
revistas esfarrapadas,
cartões de visita,
um par de sapatos de verniz,
quase novos,
a que se junta
uma carteira gasta,
de senhora,
um manequim sem cabeça,
uma panela furada,
o berbequim.
Pena é que os furos possíveis
não caibam já no cinto,
e a dentadura
não nos caiba na boca.
Presa a língua à trave que suporta o telhado
e as palavras disponíveis
para abate,
teríamos, por fim,
acantonado o silêncio,
o desusado silêncio
do sótão imperturbado.
( in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)
Foto: © de Amadeu Baptista
Sem comentários:
Enviar um comentário