quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Elias Foukis, um poema


VIAGEM DE JESUS CRISTO

De todos os sonhos em cujo fundo
reinava o fatalismo e a desgraça
não posso no entanto esquecer um
que começava com a Volta ao Mundo
no ponto geográfico onde nasceu o Amor
e acabava no instante em que homens se odiavam entre si.

De modo inteiramente natural
dei começo à caça ao Ódio
mas em pouco tempo esse refrigério transformou-se em incomodidade
uma vez que acabava de ler
a «Dialéctica de Moisés»
e tinha que tranquilizar os meus próprios fantasmas
a propósito da angústia que sentia Moisés
por a essência da História
que julgada pelo modo como os ventos
tocam as janelas de Jerusalém
não parece nada trágica.


Mas parece-me que Moisés
cujos pensamentos o ar propagava pelo deserto
se apressou um pouco.

As janelas de Jerusalém
só viram apenas ídolos.

Eles não constituíam perigo algum para a Cidade
mas ao não serem perigosos
eram incorrigíveis
e assim podiam agitar as consciências dos cidadãos
sobre a ética dos Heróis
onde após a escravidão das almas dos homens
começou a alongar-se a nuvem da suspeita
de que afinal não tinham libertado ninguém.

E tão grande era a confusão
da Gente que se tinha posto quase íntima de Deus
que a outonal nudez do Monte Sinai
se vestiu com o ímpeto de todo o Povo
que marchava para o castigo transmudando em pó
a Sorte que o Destino lhe tinha prometido.

Tanta desolação deixada para trás bastava
para deixar claro o que alguma vez
fora um fantasma…


Tão-somente redimidos da embriaguez
                 do carácter Divino
os visionários da Dialéctica
baptizada pelo vento cálido e pela Alma
viram que o Céu não estava presente em nenhum lugar.

À sua volta havia apenas Mundo
para não dizer Roma…
                   poder…
                   fria lógica…

Isso bastava portanto para afastar-nos
de vós e da terra.

Em outro mundo já não
tinha como controlar
se Jerusalém se mudava para o Inferno
                ou para o Paraíso
pois Jerusalém já não poderia saber
que com o ódio perante mim
o meu Olhar que se arrasta pelos Céus
tal como segue o meu corpo pela Terra
continuará a conceber sonhos
para trazer perante os olhos vazios do Mundo
o infeliz passado do Idealismo Branco.

Por isso não há nenhuma esperança
porque tudo é muito nebuloso
e de tudo será o mais terrível.

As Santas Escrituras começaram a caminhar pela Terra
negando-se a caminhar a pé com o mundo
desde que os Passos do Mundo
se tornaram imperiais
e a noite que está a ponto de cair sobre o Mundo
todos esses jogos nada sérios
de suspeitas e elucubrações
passará por Lendas Negras
nas margens do rio Jordão.

Portanto
só uma coisa será certa
no Sonho que tive.

O seu curso não pode conter
em ondas sem mistério
sinais e sombras da vida após a morte.


A morte tem frios objectivos
de modo que o que se poderá ver unicamente no mundo
será o Povo Castigado
que como quis dizer-vos mais acima
atravessará a História
tendo diante de si o Deserto
no seu eterno lugar
buscando explicações do retorno do Idealismo
do rio Jordão…
e se não me engano muito
nem mesmo esse terá direito a regressar
exactamente tal como acontece com os outros seres
que não pertencem a nenhum Deus.


Versão minha - © Amadeu Baptista



Elias Foukis nasceu a 20 de Agosto de 1969, em Kefallovriso Ioannina, Grécia.
Escreve poesia desde 1988. Em 2007 publicou ‘Testamento de um Deus Menor’, que foi traduzido em inglês, francês, italiano, checo e castelhano. Desde o ano 2000 vive e trabalha em Atenas.

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