segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A HARPIA ALEMÃ É PERSONA NON GRATA





A HARPIA ALEMÃ É PERSONA NON GRATA

Você transita no encardido da trama imobiliária
e aprecia. O sumamente reles empoa-lhe a tineta
e não há malha caída a que não responda. De facto,
você poderia ser uma mulher de tomates, não fosse
o esgar com que a todos contamina, ou os juros
com que faz pagar o que amontoa. No mais,
está sempre certa. Não há engano que a subleve
desde que se afeiçoou a isso a que chama vida,
robusto nome para quem circula, de desdém
em desdém, a não amar ninguém.
Ciosa da avenida, o furor uterino faz-lhe bem.
É um meio eficaz para quem sabe
que entre o gargarejo e a comandita,
basta de garbo sobre os tempos mortos.
Contudo, se soubessem como é que você fode,
talvez não houvesse motivo para ir ao prestamista,
ou recorrer à bruxa. A fila já não buzinaria, assim, tão à má fila.
E a cidade, corruptora e vil, tomaria de si o grado exemplo
e requisitar-lhe-ia os serviços, apenas em avença.
Obviamente, você insistiria. Determinadas
matérias, que são inflamáveis, perto de si
explodem, ao mínimo descuido. Qualquer que lhe vá
à frente, é um alvo a abater, seja espírito incauto, ou poeta,
chegado da província. Diabo que a carregue, já se sabe,
leva consigo em cima, enquanto, interiormente,
você se ri, lembrando-se do paizinho, do resto da família,
o tio Adolfo em Berchtesgaden. É curioso notar
essa ingénita maneira com que se faz passar
por um ser angelical, como se não partisse um prato
e mais a cristaleira. Assim, tanta inocência,
relativiza-lhe o opróbrio com que se enfeita,
com máscara ou sem máscara crudelíssima. Ignóbil como é,
você sabe morder pela calada, rosnando à perfeição,
se a coisa fica mais ou menos preta, sempre a lamber
a beiça, enquanto busca o mais que há-de comer.
E a angústia é que come, a repartir afronta
pelos outros, candidamente nus na sua alcofa.
Mas esses são uns estroinas que nunca trabalham, pelo menos
é assim que você os pensa, a esconder na ofensa
a progénie da sua própria génese,
linhagem de excelência, cf antigamente:
«os nossos inimigos são pequenos vermes».
Nós, os que aqui estamos, destroçados e aflitos
pela agrura, olhamo-la descrentes, e mortos
pelos seus golpes, desejamos-lhe um fim
com muita terra dura.


© Amadeu Baptista



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