António José Queiroz, poeta convidado
Três poemas
Mar. Chuva. Ventania.
No denso canavial
(em ligeiro sobressalto)
o doce golpe das palavras,
a desordem dos corpos,
o caos das línguas
na preia-mar das bocas.
Labaredas de fogo
entre enganos e afectos.
No horizonte de neblina,
o voo insondável e branco
de uma gaivota.
Adeus
Penso em ti.
Há uma voz que se repercute
no coração do poema
com a cadência de um látego incansável.
Oiço os acordes obscuros
de uma música descompassada,
o rumor de um mar intranquilo.
Regressa à memória
o desastre de um desejo envelhecido.
Está frio.
Um tímido sol anuncia
o lento suicídio do Inverno.
Penso em ti,
na vertigem súbita das falésias,
no verde e húmido
olhar da despedida.
A divina imperfeição
Caminho sem pressa pelas veredas
de um labirinto que parece não ter fim.
Oiço o som dos meus passos solitários
e sinto as fragrâncias de um jardim que se perdeu.
Entre ser livre ou ser feliz, escolhi
a liberdade de construir outro destino.
Sei agora que a minha vocação
é o silêncio íntegro das sementes
nos campos tranquilos e lavrados.
É tarde. Do pó vim, ao pó quero regressar,
liberto, enfim, da geometria cruel do labirinto.
Dia após dia, procuro a secreta passagem
para a morada longínqua do mundo inicial.
Se Deus projectou em mim a sua imagem
em mim negou a sua divina perfeição.
Fotos (ilustração dos poemas) Sintra: © de Amadeu Baptista
Poemas: © António José Queiroz
António José Queiroz nasceu em Vila Meã (Amarante), a 4 de Maio de 1954. É doutor em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Fundador e director das revistas literárias Cadernos do Tâmega (1989-1995), Anto (1997-2000) e Saudade (2001-2010), é um dos editores dos cadernos de poesia Pena Ventosa. Publicou dois livros de poesia – Memória do Silêncio (1989) e Os Meninos Outros Poemas (1993) – e colaborou em revistas literárias de Portugal, Espanha, França, Itália e Brasil. Alguns dos seus poemas estão traduzidos em castelhano, francês e italiano. É membro da Associação Portuguesa de Escritores e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
Amigo. Adorei ler este poemas também escrevo poesia e uns pequenos textos em prosa seguidos de um poema. Mas não sou poeta escrevo para me devertir e passar o tempo.
ResponderEliminarUm abraço
Santa Cruz (Diácono Gomes)
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