(imagem da capa indisponível)
Dois poemas de A Sombra Iluminada:
Toma do ar o fogo e bebe-o lentamente.
Há-de esse ardor inundar-te para sempre
porque além do canavial alguém proclama
que não é mais que fogo o ar que tu respiras.
A essa incandescência entrega o barro.
O que sair das mãos é tão sagrado
como o sopro que um dia te deu vida
e enviou para uma despedida
tão triste como é agora o teu olhar.
Enche os pulmões, aspira a tua dor.
Deus há-de reencontrar-te face a face
para que a sarça amplie sobre a noite
a luz dos elementos que respiras.
O ar, o fogo, a terra, a água exausta.
*
Um ângulo converge para o sortilégio
com que dulcificas o coração da urze.
Há doces rumos sob os teus cabelos.
Acenas e consentes que o anjo invoque
a pedra que nos une sob as águas.
De novo falas uma língua estranha.
Adere à pele a luz que vem da noite
e dá um nome limpo ao brilho do desejo.
Fosfeno e prata elevam-se nos ares
e adivinhas o mais secreto laço
que une os tempos sobre a praia amena.
– Be my stranger. – , dizes. E o arco solta
um clarão invisível sobre as casas
que aguardam apenas o estremecimento
para que algo inviolável se inicie.
Esta é a tua casa, a curva de onde lanças
algumas das palavras preferidas
ao caudal da vertigem onde te perdes
para que algo absoluto ressuscite
desse fruto macio.
Eleva as mãos e canta. Eis o caminho.
(in Vários, Douro: Um Percurso de Segredos... S/l, Instituto de Navegabilidade do Douro/ Campo das Letras, 2000)
Magníficos poemas, Amadeu.
ResponderEliminarNão conhecia nada da tua obra, nem nada sabia de ti até chegar ao blog do António Cabrita, aquele ser estranho desterrado (ou enterrado, chego a supor) em Maputo.
Voltarei com mais calma para ler tuas postagens anteriores.
Um abraço