Escrevo algumas vezes pelas praias.
Recolho seixos, pequenas coisas, algas
que me fazem lembrar uma outra infância
que respirei algures num outro mar.
Palavras lisas, vocábulos minúsculos, bruma,
são búzios que manejo nos poemas,
descasco, abro
como súbita concha,
ou súbita mulher de seios brandos.
Duas ou três gaivotas, um navio lá longe,
o mar que enrola na areia
– canções que cantei quando menino –,
escrevo mansa, torrencial, apaziguadamente,
desperto pela brisa
a espuma branca,
os lábios que há nas ondas.
Às vezes,
pelas praias,
reconheço
que pago muito pouco pela água.
(in As Passagens Secretas, Coimbra, Fenda Edições, 1982)
Sem comentários:
Enviar um comentário