Jean Sibelius: Valse Triste
Um modo de chegar à vida: descalço e sem repouso.
Outro ainda: com um súbito movimento de roda a sitiar
o corpo, um repentino sentimento de desprotecção, as mãos
afogadas numa faixa de linho que mais do que aquecer
evidencia apenas a orfandade de só nos submetermos
por algo frágil que nos toca a garganta e espessamente rebenta
num grito que incendeia o rastilho de raiva
com que assomamos ao mundo, uma claridade pesada
para os olhos de quem ainda não vê e se chegar a ver
há-de tolher ainda mais o poder perscrutador, essa cegueira
da terra. Por isso, o recolhimento, esta incerteza fundadora
para um futuro avassalador nas estradas precárias
do destino, o modo soleníssimo de nos entregarmos ao pranto.
in O Bosque Cintilante, Maia, Cosmoroama, 2008
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