segunda-feira, 26 de março de 2012

O Bosque Cintilante # 15

Felix Mendelssohn: Liede ohne Worte

A autonomia do efémero é um destino preciso.
Bastará não deixar de passar os dedos
no tronco das árvores e o mundo constituirá
um rumo inevitável e exacto,

ainda que uma engrenagem, uma rosa.
Ou um seixo polido.
Pode o rosto esconder-se nesse instante,
pode augurar a floração e o mistério,

mas existe para além do momento
e é muito mais que a expansão da brancura.
Se lhe chamássemos pedra
de nada serviria a pedra

e o imparável movimento que contém,
de nada serviriam os regatos e a multidão de homens
que codificam as sombras
e se afastam de casa.

Dentro de nós não há melodia.
Só o efémero.


in O Bosque Cintilante,  Maia, Cosmoroama, 2008


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