José Emílio-Nelson, poeta convidado
2 Poemas inéditos:
Abrupta rudeza, rude,
As pancadas rudes que descarnem os ossos, rasgam a pauta.
Reinstala o mais exausto, o que raspa o eco fechado, insidioso, sustenido, e [a
Música] arrebata, descamba.
A orná-la, a rispidez da espiral baloiçante em derrocadas.
Descai, por detrás, de lá de dentro,
Ascende-se ao vazio, soa tão imperfeito,
É incompreensível. [2,53]
Se vislumbram horizontes rejeitados, a deslizar
Ao longo das poeiras estendidas até ao regresso
À imobilidade.
Entorpecem os delírios da euforia. Espaçada,
A afastar-se de si,
O clarão afasta-se e emergem altos e baixos ofegantes,
Desfraldados, [2,13]
A finura sussurada. [0,43]
Desprende-se a ranger o que ilumina e espanta, retraça o
Divino. Resplandecente a escuridão que não se afasta da acalmia, fragiliza. [1,28]
Encosta o ouvido. Dedilha. A impaciência dispersa-se na profundidade
da quietude. Atrai
A mais densa inexactidão, ávida, sem afrouxar, altíssima,
O som primeiro, derrubado.
Esses movimentos oferecem uma indeterminável
Blasfémia a Deus. [3,19]
Que bizarra cortesã. Rumorosa pérola,
Corpete enfunado, fustões (de crustáceo & cetáceo).
Cadências encrespadas. Cólera a arremessar espumas.
A cortesã encobre os céus de candelabros.
Cortesã, cortesã luxuriante nas entranhas,
Galanteia, enreda-se, sulca e morde, acaricia,
Arrasa prostíbulos, transborda, ribomba, assoma,
Zarpa mórbida, estrondosamente, enfeita cadáveres.
Toca o vasto céu e revela-o jaspeado.
Em cada braço o sal, descalça estremece
(De amido, de escamas). Poço fundo, coral.
Altura de profunda púrpura anil,
Violeta encordoada, espezinha o
Paredão afundado, a
Quebrada tristeza. Tapada nudez, descarnada,
Cegueira do instante.
Mutila a Terra
(Falésia da água eterna).
Vem e enluta, vem e ensurdece o ar (a arrolar o naúfrago),
Glauca, alta, obstinada fundição do céu nocturno,
Ondas que o cobrem e se estendem
E cintilam no cimo de tudo.
Bandeja de vagas, perfeito esperma, vingança
Uraniana, archote de ondas, na
Castração em que ressoa , estorce, resplandece.
(Eu vi o céu estrelado do baleeiro
Na quimérica, barroca barca de grafar.)
José Emílio-Nelson [Espinho, 1948]- Poeta, crítico literário e editor.
Reuniu a Obra Poética em dois volumes: A Alegria do Mal (1979-2004) e
Ameaçado Vivendo (2005-2009).
Foto de José Emílio-Nelson © de Rui Sousa; fotos ilustração dos poemas © de Amadeu Baptista; Poemas: © José Emílio-Nelson
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