quarta-feira, 18 de junho de 2014

Lennart Sjögren





                                                    POEMAS DE LENNART SJÖGREN








E a folha da bétula foi encontrada
longe no alto mar
lá onde descansava
no seu próprio barco verdejante

Havet, 1974




A ERVA

Não é a gadanha a que morde a erva
é a erva que por fim
Devora a gadanha convertendo-a numa folha finíssima sem aço
– anestesiada até ao óxido
logo adormece
na erva crescida.

Stockholms Central och andra folklivsdikter, 1980



IMAGEM CIDADÃ

Vi uma cabeça de lúcio
levantar-se sobre a praça
vi um ganso grande, era mais alto
que a câmara municipal
e tinha mais poder.
 Eu, visitante das cidades pequenas do mundo,
senti que se me enrugava a pele
quando o lúcio a falar de mágoas
 e da indescritível alegria
de pascer a erva
da ribeira do rio.

Dagen före plöjarens kväll, 1984




O REMO

O que encontra um remo partido
não pode dizer com segurança
que tenha sucedido um naufrágio

mas é provável que um remador
tenha caído à água

pode ocorrer-lhe uma deslembrança
o seu nome
deixou-o ir na corrente
e renunciou às possibilidades do remo.

Dagen före plöjarens kväll, 1984




O NEVÃO

Não me perguntes como se detém o sangue
nas feridas que se não vêem

e não me perguntes onde
está essa pátria que ainda merece a pena defender

preferível é que me perguntes algo
sobre o nevão que cai
podemos reunir-nos
para falar de como o que não tem esperança
tem a sua própria esperança

e de como esses que estiveram tanto tempo angustiados
pela morte
se sentem arrebatados de alegria no tempo dos nevões.

I vattenfägelns tid, 1985




QUEM NÃO SONHA

Vi uma ratazana cruzar a estrada
tinha rosto humano
era uma rata pequena
menor que o meu sapato.
Perguntou-me que direcção tomar para ir ao lugar
onde pudesse morrer em paz.
Como ia responder-lhe a semelhante pergunta
que tão parecida era com a minha.
Tentei-o com uma palavras semi-bíblicas:
vai ao lugar onde os mortos enterram
os seus mortos – talvez seja no oeste.
Mas não serviu de nada
e quando as modifiquei:
vai ao lugar onde os nascidos
com os ainda vivos – talvez seja no este,
e inteira-te se aí podes conseguir
uma morte a preço razoável,
já tinha desaparecido.

E quem não sonha com uma morte serena
– quanto mais cedo melhor, dizem alguns,
mas com isso não querem dizer nada.
Tinha-se gelado aquele dia
ou era verão – não me recordo
mas os sonhos estavam alienados ao longo da estrada
não completamente diferentes de pássaros erguidos sem asas.

I vattenfägelns tid, 1985




ENCRUZILHADA

Compara a noite com um carro negro
e a manhã com um carro caído
mas que imagens cobrirão
a dúvida que surge
numa encruzilhada
como esta
em que uma criança cega guia
um cavalo de madeira.

Ormens tid, 1992




Sonhei bastante tempo
que viajava entre beduínos
caminhávamos de manhã em manhã
e de noite a noite

as miragens rodeavam-nos

por rezar a algum deus
era o grão de areia
o que punha os desertos em movimento

Ormens tid, 1992



Versão minha - © Amadeu Baptista







Lennart Sjögren (1930).  Nasceu na ilha de Öland. Estudou arte e é artista gráfico. O seu primeiro livro de poesia data de 1958. A sua poesia está centrada nos animais e na observação da natureza. Recebeu o prémio Carl Emil Englund.






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