David F. Rodrigues, poeta convidado
TRÊS POEMAS
1
que te chame hoje
camélia ainda em botão
consente
quero amanhã
abrir-te em minha mão
transfigurada
fugaz arco-íris de pétalas
efémera rosácea de sol
veemente
possa agora
depor em tua face repleta
de lábios meus beijos
como terna borboleta
2
revestirei o teu corpo
apenas com o pijama
incandescente
do meu em chama
a noite assim quero
em labareda viva
ainda em ti esperto
de novo adormecer
depois despir mas só depois
pacientemente como quem
subtis nós de seda solta
e prende um só corpo em dois
3
de novo amor hoje façamos
deste lençol de puro linho
a túnica breve do corpo vizinho
da candente euforia da noite
manhã cedo amanhã recordarás
a seara azul das flores imponderáveis
onde um dia lembras-te ao entardecer
as longas e lentas tranças entrelaçavas
e um primeiro ramo tímido de miosótis
inventei para te coroar no meu peito
© dos poemas: David F. Rodrigues; do desenho: pintor Salvador Vieira; da foto abaixo: Amadeu Baptista
David F. Rodrigues nasceu em Março de 1949, em Mato-Ponte de Lima. Já viveu em Braga. Reside, desde 1985, na cidade de Viana do Castelo. Trabalhou, como estudante (1957-1974) e como professor (1972-2009), durante 52 anos consecutivos. É licenciado em Filosofia e Humanidades, pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, e mestre e doutor em Linguística (especialidade de Teoria do Texto) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Além de trabalhos de investigação realizados e de artigos (publicados) na área da sua especialidade, dedica-se também à criação literária, tendo publicado poesia e narrativas, com destaque para, no domínio do primeiro modo, O Rito do Pão (Coimbra, 1981), Dilúvio de Chamas (Porto, 1985) e O Que É Feito de Nós (Viana do Castelo, 1988); e, no domínio do segundo, Troféus de Caça (Coimbra, 1982) e Presépio de Pão (Viana do Castelo, 1984). Tem poemas, contos, crónicas, recensões e estudos publicados em páginas literárias de jornais e revistas de Portugal, Angola, Brasil e Galiza. Fez parte do Conselho de Redacção da revista Mealibra e das edições «Cronos/ Poesia» do Centro Cultural do Alto Minho, bem como da editora Límia. Coordenou o Conselho Editorial de IPVC-Academia, revista do Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Aposentado desde 2009, morrerá, involuntariamente, na devida altura.
Obrigado, Amadeu, pelo convite e pela publicação. Abraço.
ResponderEliminarDavid
Belíssimos poemas, querido amigo David. Júlia
ResponderEliminarObrigado! David
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