POEMAS DE THURÍDUR GUDMUNDSDÓTTIR
VAMOS
Vamos
antes que o dia se consuma
nas nossas mãos
Vamos
à margem do rio e sintamos
antes que as lágrimas
sequem nas suas margens amarelas
Vamos
olhar as flores e as cerejeiras
brancas
antes que as nossas mãos cegas
acariciem o rugoso dia
e o amor esteja ausente
Vamos
Hlátur thinn skýjadur, 1972
A TUA MORTE NA MINHA VIDA
Afundo os remos suavemente
no entardecer
Não,
no teu sangue
e aproximo-me veloz
da vida
Hlátur thinn skýjadur, 1972
JUNTO AO CAMINHO
Dá-me uma tarde cheia de cor
Telhados vermelhos
ardendo de tristeza
ao sol que morre
Barcas de pescadores
saudando a praia
E distância
que sangre na tua presença
Hlátur thinn skýjadur, 1972
ENVOLVE EM CREPÚSCULO
Envolve em crepúsculo
os arbustos
Criaremos a noite
acenderemos a noite
semearemos histórias
em olhos infantis semi-abertos
E logo me darás o teu hálito ardente
e escutaremos juntos
Veremos abrir-se o céu
e pintaremos na escuridão
os nossos múltiplos desejos
Envolve em crepúsculo os arbustos
criaremos a noite
Hlátur thinn skýjadur, 1972
FLORES DE ORVALHO
Flores de orvalho adornam as janelas
das nossas casas
Quando pões
as tua palmas cálidas
sobre o orvalho
através das tuas mãos
vejo o mundo exterior
envolta na treva
que não queremos ver
Flores de orvalho adornam os nossos corações
e nos páramos ardem os fogos-fátuos
a caminho do povoado.
A svölunum, 1975
UMA ESPÉCIE DE AMOR
Gostaria de me afogar nos teus olhos
E depois o meu cadáver
chegaria à costa
como fugaz recordação
daquela menina
que te olhou
há mil anos
Menina
de tranças louras
e olhos azuis
não reconhecerias o cadáver
Og thad var vor, 1980
PEDAÇOS
O teu pensamento
quebra-se nas palavras
dos teus lábios
Recolho com cuidado os pedaços
ordeno-os, firo-me,
e crio um novo pensamento
meu.
Og thad var vor, 1980
O TEMPO
Pedimos a este instante
que se detivesse
Atiramos flores
ao rio
grandes e azuis
levou-as a corrente
cada vez mais longe
Vimos a nossa vida
reflectida no rio
alhear-se
como as flores azuis
Tomaste a minha mão
e disseste
o tempo é cruel
Og thad var vor, 1980
LIVRO
A tua experiência
parecia-me um livro
formoso e fortemente encadernado
posto numa prateleira
com todos os adornos valiosos
deixaste-me
uma vez
ler algumas páginas
então
olhei-te
como se fosse
a primeira vez que te via.
Thad sagdi mér haustid, 1985
COLAPSO
Desabas-te
alguma vez
sobre ti mesmo
arrastado pelas ruínas magoado
olhando surpreendido
os destroços
e pensado:
sou eu?
os presentes,
bem, todo o mundo
olham-te exigentes
recompõem-te
Cambaleias
agachaste por um pedaço
logo por outro
logo por outro mais
e planeias a reconstrução.
Ordin vaxa i kringum mig, 1989
NA CRUZ
Na cruz
cravaram os nossos pensamentos
e palavras
a cor da nossa pele
a nossa vida a nossa liberdade
na cruz
cravaram o nosso corpo atormentado
na cruz
tocamo-nos
em Cristo
no sofrimento
Ordin vaxa i kringum mig, 1989
Versão minha - © Amadeu Baptista
Thurídur Gudmundsdóttir, nasceu em 1939. Escreve poemas líricos sobre temas quotidianos, memórias da infância e vivências. Versos simples e expressivos que reflectem a dor, a vida. Publicou sete recolhas de poesia, desde 1969.
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