POEMAS DE TARJEI VESAAS
ERA UMA VEZ
Era uma vez uma pequena bétula
a que tinham prometido folhas novas
para meados de maio.
Apenas roçagava a terra
por isso
e porque era tão ligeiro.
E chegou também como lhe tinham prometido
um vento de maio.
Mareou-a um pouco
e adoçou-lhe o tronco
e ficou dolorida em todos os seus rebentos.
Um pássaro chegou a pousar
num ramo nu –
e disse que tinha chegado a hora –
Não se deu conta de nada
naquele dia.
Mas quando chegou a noite
a sua magra nudez e o seu esplendor
tinham-se coberto de um verde tenro.
Mareada e viva.
Libertou-se, lentamente.
Libertou-se completamente das raízes, criou.
Navegou como um velame verde pela colina.
Longe daquele lugar para sempre,
– pensou a bétula.
Leiken och lynet, 1947
A SUPERFÍCIE ESTÁ CALMA
A superfície está calma
no país do fogo,
não se pode ver nada,
tudo está em equilíbrio.
Mas estão passando coisas
a esta hora,
como avalanches flamíferas
em montanhas interiores.
Eles sabem-no, esses poucos
que viram através das fissuras
e sentiram o golpe de calor.
Os homens sentem-se atraídos pelos homens
na sua fome de fogo através de milhares de quilómetros
– e de repente nada há incerto,
olho a olho
mutuamente, sobre a verdade, sobre
a profundidade do fogo e o selvagem encontro dos fogos.
Løynde eldars land, 1953
OS TEUS JOELHOS E OS MEUS
Os teus joelhos e os meus
e o cálido musgo.
E os anos moços.
O teu sedento medo,
como o meu.
E pesado como o meu.
O olho de Deus num sol
em chamas.
A tua própria confusão
dentro da minha:
Adeus.
Ver ny, vår draum, 1956
O PÁSSARO
O pássaro estava preparado
junto à estrada esperando.
O pássaro era um milagre.
A sua grande asa
era esquecimento.
O ritmo do pulsar do seu coração
era o meu.
Juntos navegamos
para o desconhecido.
Sem perguntas.
Sem penas.
Lyv ved straumen, 1970
PEQUENO ROEDORES
A madeira da cerca de trigo range
sob a capa de neve.
O monte pesa como o mundo.
Mas há outras coisas
em que pensar:
A pressão da neve está
esmagando lenta
e silenciosamente
o peito de pequenos roedores
na terra que já não se vê.
Todos aqueles que não tiveram tempo de alcançar refúgio
quando desabou a tempestade de neve e os enterrou
quando corriam por ali.
Pequenos roedores
jazem entre as pálidas palhas húmidas
do verão passado,
sem que saibam onde estão
ou o que aconteceu.
Brilhantes olhos negros abertos
comprimidos contra a erva molhada.
Abertos de par em par para a tempestade.
Descansam em paz até à primavera.
Na primavera
algum pássaro os encontrará
bicá-los-á nervosamente,
levantá-los-á com o bico
e atirá-los-á para o lado.
Lyv ved straumen, 1970
NO UMBRAL
As sombras deslizam cruzando o campo
como amigos frios, serenos
depois de um dia abrasador.
A nossa alma é um silencioso
país de sombras.
E as sombras vêm deslizando
trazendo amistosos enigmas
e um oculto florescer.
Levantamos serenamente o olhar
Estás já aí,
escura flor minha?
Lyv ved straumen, 1970
VENTO PERIGOSO
O vento sopra e sacode.
Dançam as velhas folhas.
Rangem as velhas portas.
Mas as velhas ideias tornam-se
novas e perigosas
no vento jovem.
Lyv ved straumen, 1970
Versão minha - © Amadeu Baptista
Tarjei Vesaas (187-1970). Nasceu em Vinge (no norte do país). É de origem camponesa, Estudos na Universidade Popular. PO seu primeiro livro de poesia data de 1946. Vesaas é um dos grandes romancistas noruegueses. Também escreveu teatro.
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