José Carlos Barros, poeta convidado
3 Poemas
[Soneto do sobressalto]
É fácil no amor o ser feliz
se a tanto se resume o que buscamos
jurando a eternidade com o giz
das coisas que escrevemos e apagamos
conforme nasce o dia ou anoitece.
Mas eu, amor, exijo o sobressalto,
a dor, o lume, o vento que enlouquece,
o medo, a cicatriz, o passo em falso.
E arrisco-me a ter frio e a ter sede.
E ouso o fogo, a areia da tristeza,
o voo no trapézio sem a rede,
o abismo, um precipício, uma ravina
a pique desenhada de surpresa.
Do mundo eu temo apenas a rotina.
[Soneto da redenção]
Em todas as mentiras que te disse
havia qualquer coisa de sublime:
eu queria ser melhor; e fui; e se
te menti até isso me redime.
Eu via-te chegar fechada em leque,
às vezes tão cansada e indiferente
ao lume e aos seus rumores; mas eu é que
limpava o pus e a ferida persistente
de ser o mundo assim tão arbitrário,
infame, vil, gravado em desencanto.
É certo que tirei do dicionário
(eram mentira) os versos que te fiz
e os nomes que te dava. E no entanto
só queria que pudesses ser feliz.
[Soneto à maneira antiga]
14, 16, 42;
90, 27, 34.
18. 32, 94:
70, 123, 6, 2.
249, 5,
61, 40, 17.
80. 35, 37:
640, 85.
60, 900, 16,
49. 12, 25:
94000, 46,
618, 39.
200, 107, 35.
90, 7000, 79.
Fotos (ilustração dos poemas): © de Amadeu Baptista
Poemas: © José Carlos Barros
José Carlos Barros (Boticas, 1963) é autor de sete livros de poesia publicados fora dos circuitos de distribuição comercial. Do mais recente (Rumor, 2011) fez-se uma tiragem de 100 exemplares numerados e esteve à venda no facebook. Publicou dois livros em prosa: a novela O Dia em que o Mar Desapareceu e, em 2009, o romance O Prazer e o Tédio. É licenciado em Arquitectura Paisagista pela Universidade de Évora e vive e trabalha no Algarve, em Vila Nova de Cacela.
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