terça-feira, 18 de setembro de 2012

Alexandra Malheiro


Alexandra Malheiro, poeta convidada




3 Poemas:




Balada para uma Inês morta

Se nos amassemos
pela manhã
ou na cadência louca
do entardecer,
se embalássemos
num canto de voz rouca
a luz do poente
ainda por nascer.
Se o nosso amor
fosse classificado
como um desses amores
ainda por dizer
ou, se outrossim,
lhe chamássemos
o amor talvez
ainda por fazer,
serias tu Pedro – o Rei
que inda há-de ser
e eu Inês já morta
sem te ter.

(in A Urgência das Palavras, 2008)








A velha


Tinha olhos azuis
muito azuis,
acesos num lençol
de rugas
e

Não se sabe
porque mastigava os poemas
ou as gengivas.

Era uma velha,
como outra qualquer velha,
rilhando uma côdea seca de
poema,

andrajosamente
itinerando pela cidade.

Apenas não se sabe
porque…

(in Luz Vertical, 2009)







Às vezes Novembro

Às vezes Novembro era mais frio
que todos os meses
e uma sombra grotesca
amarfanhava-me os olhos.
Presas ao meu corpo arrastavam-se
sombras e pombos mortos,
coisas que mais ninguém
gostava de ver.
Às vezes Novembro
era um mês surdo,
e eu fechando os olhos
não ouvia o silêncio,
apenas o rugido trémulo
de uma trovoada cuja chuva
nunca vinha para amenizar-me
o sono e eu não
dormia nunca,
perorava vigil em
sobressalto pelos trovões.

(in Geografias Dispersas, 2011)





Fotos (ilustração dos poemas): © de Amadeu Baptista

Poemas: © Alexandra Malheiro





Alexandra Malheiro nasceu em 1972, no Porto. É licenciada em Medicina pela Universidade do Porto e especialista em Medicina Interna. É autora de 5 livros de poemas: “Sombras de Noite” (Elefante Editores -2004), “Circulação Transversa” (Corpos Editora - 2005), “A urgência das Palavras” (Edições Ecopy -2008), “Luz Vertical” (Edita-Me Editora - 2009) com prefácio de Pedro Abrunhosa e ilustrações de Miguel Ministro e “Geografias Dispersas” (Edita-Me Editora - 2011).

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