quarta-feira, 14 de maio de 2014

João Tomaz Parreira

DOIS POEMAS DE JOÃO TOMAZ PARREIRA






HELENA DE TRÓIA




Helena de alvos braços 
Helena, divina entre as mulheres

Canto III, da Íliada, de Homero





Pela beleza dos teus olhos mil navios
fazem-se ao mar, pelo fogo
que o vento nos teus cabelos despenteia
mil olhos ficaram com insónias

Pelo amor inatingível do teu corpo
mil homens dão o peito à morte
e pelo ouro dos teus lábios, gritam
nas praias de Tróia mil heróis

Pela tua beleza transparente nos vestidos
erram ainda cegos pelos campos
à procura de vestígios.






'Helena de Tróia', por Evelyn de Morgan. 1898









A MULHER DE SAMARIA





Não é qualquer uma. É uma mulher ao meio-dia
De olhos no chão, equilibrando o cântaro
Frágil
Cada lágrima que esconde

É uma mulher que teve abraços
Beijos na sua face morena, escondida
Em silêncios

Não é qualquer uma, é uma mulher
Que conhece bem o seu rosto
No espelho triste do fundo do poço

É uma mulher ao meio-dia
Que resiste, mesmo que isso a torne
Invisível, para que outros não tenham sede.







'Mulher da Samaria', por George Richmond. 1828


© dos poemas: João Tomaz Parreira

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