segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O Bosque Cintilante # 72

COM OS VOTOS DE UM 2013 EXCELENTE




Franz Liszt: Liebstratum

O coração que pulsa no vasto campo de calêndulas.
É pouco mais que um anjo, algo menos que uma lâmina,
figura jacente sobre a terra que está agora ígnea, amarela
e vermelha sob as mãos. Escuta-se
e é a voz perdida, a luz perdida na solenidade da pedra,
a liturgia onde paira o silêncio com a desmesura
de uma violentação, o choque entre duas partes de água e um pó evanescente. Ouvi-la
é como desocultar do voo um instrumento de abandono, rastro
que uma mancha azul cobre de ilegibilidade, certo rumor obscuro,
o brilho de um vidro negro. Ao longe, recorta-se o amor,
mais perto é esse caminho, a ilusão que o álcool
conserva dentro de um nome, a fita fusiforme
que os dedos prendem ao infinito como evocação,
encantamento, o chão onde um nome foi inscrito
e o corvo grita na imensidão da noite.


O Bosque Cintilante, Maia, Cosmoroama, 2008
© de Amadeu Baptista


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