Ludwig van Beethoven: Romance para violino e orquestra No. 1
Uma e outra palavra para enunciar
o enredo de uma carta, filamentos
onde uma mulher está perdida e observa
a lenta progressão da fogueira, o rolo
de fumo em que a mensagem se inscreve,
clandestina e proscrita,
para que os olhos se encham de água,
a menos pura,
a que o corpo segrega na melancolia.
Esperei que chegasses toda a tarde, a promessa
da tua presença inesperada contagia
a fragilidade do coração, sequer suspeitas
como o inferno se instalou no meu peito,
nenhuma bênção chega agora a esta praia
em que a escuridão vacila em esconder
a minha ânsia e o meu rosto.
A noite cai sem brilhos no horizonte, ascendem
aos limites os ramos desta árvore,
não chegaste e progrediu a tristeza nestas ruas
onde a sombra é um volume opaco, uma coluna
de dúvidas intensas, o obstáculo
que a vida estende sobre o chão
onde o corpo encontra os mil vestígios da voragem,
o toque esparso da solidão,
a cinza da fogueira que não arde.
in O Bosque Cintilante, Maia, Cosmoroama, 2008
© de Amadeu Baptista
Belo poema!
ResponderEliminarCada vez o "bosque cintilante" se torna mais imenso no desfraldar das palavras. Amei.