A LORCA
Desapareceram os nossos cavalos
silenciosamente no bosque.
Ponho a minha mão sobre o teu coração.
Foi aqui?
Dás-me a tua mão
conduzes-me à luz
e ofereces-me a navalha
enquanto os nossos cavalos desaparecem
silenciosamente no bosque.
Cravo a navalha no coração
distanciamo-nos silenciosamente.
Sorridentes descemos o declive
mutuamente saboreando as nossas palavras.
( de Undarlegt er ad spryrja mennina, 1968)
INTERESSANTE É PERGUNTAR AOS OUTROS
Interessante é perguntar aos outros
pelos demais.
Interessante é perguntar pela paz
e o amor.
Interessante é sentir o teu alento
meu filho
sentir-te beber dos meus seios
das flores dos meus seios.
Pergunta-o aos outros.
( de Undarlegt er ad spyrja mennina, 1968)
CANÇÃO
Não te posso esquecer
durante a noite não durmo
Às vezes as tuas palavras eram como lâminas
outras vezes como sinos
deitámos fogo a uma montanha
que logo nos recordou para sempre
Cantou a urze
cantaram todas as plantas
o nosso amor
e não pude esquecer-te
não posso dormir à noite.
( de Bornin í gardinum, 1971)
NOITE DE JUNHO
( canção para flauta )
Cantaram pássaros
em nossos olhos
os nossos dedos
voaram
de sonho
em sonho
os meus lábios
no teu ombro
a brisa
intimamente alegre
os teus lábios e a tua língua
flores voadoras
eu fui o seu prado
essa noite
fui água, montanha, barro
e sobretudo
arroio imensamente alegre
que corria
entre as tuas pernas
e te arrastava
para o abismo
ali onde brilhava
como cristal
a tua semente.
Tão ardentes eram os nossos corações
tão ardentes
pulsavam
juntos.
Tão ardentes eram
os nossos corações
tão ardentes
que o gelo não poderá
jamais
endurece-los.
E desde então sempre
cantamos cada um
no sangue
do outro
cantamos sempre desde então
cada qual
no sangue
do outro.
( de Svartur hestur í myrkrinu, 1982)
CONVIDADOS
Anoitece no nosso pensamento
sossegaram as vozes das tarefas
oxalá a noite fosse tão comprida como o dia
e maior o descanso
porque andamos a transformar em convidados
um montão de guinchos e zumbidos.
Tenho sonhos terríveis, irmão,
sonhos terríveis,
sonho
que somos a engrenagem de uma máquina uivante
e não conseguimos fazer ver
que somos eu, e tu, irmão,
e não a roda numa máquina uivante.
( de Hvíti trúdurinn, 1988)
Versão minha; © de Amadeu Baptista
Nína Bjork Árnadóttir. Poeta, dramaturga e romancista islandesa. Nasceu a 7 de Junho de 1941. Formou-se na Escola de Actores de Reykjavik e na Universidade de Copenhaga. Faleceu a 16 de Abril de 2000.
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