quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Vida adulta / 26

MIL NOVECENTOS E NOVENTA E NOVE

A vida inteira à procura de um pórtico
e, contudo, nenhuma pista para lá chegar.

Vem um e diz,
“tudo deve estar na aritmética,
se contarmos os grãos de areia
das praias e dos desertos
e os ordenarmos por contrapartidas,
encontraremos a resposta”.

Vem outro e conclama,
“desta vez não há que enganar,
é o rastro dos cometas”.

Um outro grita,
“segunda porta à esquerda,
depois das escadas,
onde se presume estar todo o benefício
e o local exacto para martelar”.

Mas quanto ao pórtico,
nada.

Até que um dia,
firme e esplêndido,
nos aparece o pórtico pela frente,
e nele lemos:

paraíso para sempre, inferno
para sempre.

E ficamos a saber a natureza da nossa
insatisfação.


( in Açougue, Corunha, Espiral Maior, 2009)


Foto: © de Amadeu Baptista

1 comentário:

  1. Muito bom a maneira como nos leva a pensar. Parabéns amigo.
    Venha nos visitar também, www.ajaneladopoeta.blogspot.com
    Abraços!

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