quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Manoel de Oliveira (no seu 106º. aniversário)

MANOEL DE OLIVEIRA. SOBRE UMA SEQUÊNCIA DE VALE ABRAÃO

O que se pode mostrar não pode dizer-se.
Wittegenstein - Tratactus
                       
Sei como recrudesce o sentido das coisas nos mais
subtis movimentos da câmara, nessa demora
amplio cada pausa para adensar na memória
o que se vê, este prolongamento
onde a confrontação é real, vital,
próximo da verosimilhança e das equivalências
que dão à eternidade um valor substantivo e precário,
intenso e frágil no espírito de quem chega
e colhe uma laranja onde um brilho se esconde
para que o inquieto mistério do cinema
seja um outro entendimento do mundo
enquanto a mulher progride,
a obscuridade permanece,
o fascínio acrescenta uma outra luz à luz
deste vale propício às coisas naturais
que a transfiguração acrescenta ao que está vivo.

© do poema Amadeu Baptista





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